As forças rebeldes sírias afirmaram que planeiam fechar as notoriamente duras prisões dirigidas pelo presidente deposto Bashar al-Assad e caçar os envolvidos na morte ou tortura de detidos.
O líder rebelde Ahmed al-Sharaa, também conhecido como Abu Mohammed al-Jolani, também disse que dissolveria as forças de segurança do antigo regime, num comunicado visto pela agência de notícias Reuters.
Vídeos mostrando milhares de prisioneiros sendo libertados da prisão de Saydnaya – chamada de “matadouro humano” por grupos de direitos humanos – surgiram após o colapso do governo Assad no domingo.
Quase 60 mil pessoas foram torturadas e mortas nas prisões dirigidas por Assad, disse o grupo de monitoramento Observatório Sírio para os Direitos Humanos, com sede no Reino Unido.
O grupo militante islâmico de Jolani, Hayat Tahrir al-Sham (HTS), liderou outras facções rebeldes sírias numa ofensiva relâmpago que derrubou o governo de 54 anos da dinastia Assad.
Assad fugiu para a Rússia na madrugada de domingo, onde ele e sua família receberam asilo, depois que os rebeldes capturaram a capital, Damasco.
Numa declaração separada, Jolani disse que o perdão para aqueles que participaram na tortura ou assassinato de prisioneiros estava fora de questão.
“Vamos persegui-los na Síria e pedimos aos países que entreguem aqueles que fugiram para que possamos obter justiça”, disse ele.
Desde a queda do Presidente Bashar al-Assad, os sírios correram para as infames prisões do regime, à procura desesperada dos seus entes queridos. Num relatório de 2022, a Associação de Detidos e Desaparecidos na Prisão de Saydnaya (ADMSP), com sede na Turquia, disse Saydnaya “tornou-se efetivamente um campo de extermínio” após o início da guerra civil em 2011.
Jolani também disse que dissolveria as forças de segurança do antigo regime de Assad. Não está claro com que rapidez poderão ser reconstituídas pelos combatentes rebeldes, face às preocupações com os ataques israelitas à infra-estrutura militar do país.
No comunicado visto pela Reuters, Jolani disse que seu grupo estava trabalhando com organizações internacionais para proteger possíveis locais de armas químicas.
Quando questionada sobre o relatório da Reuters, a vice-secretária de imprensa do Pentágono, Sabrina Singh, disse que os EUA “acolheram bem” as palavras de Jolani, mas disse que elas precisavam ser respondidas com ações.
“Nosso foco é que essas armas químicas não caiam em mãos erradas”, acrescentou.
Isso vem depois Israel realizou centenas de ataques em toda a Síria e apreendeu vários bens militares.
Um dos ataques teve como alvo um centro de investigação suspeito de estar ligado à produção de armas químicas, segundo relatos dos meios de comunicação locais.
Israel diz que está a agir para impedir que as armas caiam “nas mãos de extremistas”.
Uma arma química é descrita pelo órgão de vigilância química da ONU, a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), como um produto químico usado para causar morte intencional ou danos através de suas propriedades tóxicas.
A sua utilização é proibida pelo Direito Internacional Humanitário.
Entre 2013 e 2018, a Human Rights Watch documentou pelo menos 85 ataques com armas químicas na Síria, acusando o governo deposto de ser responsável pela maioria deles.
O governo de Assad negou ter usado armas químicas.
A Síria assinou o Certificado de Armas Químicas da OPAQ em 2013, um mês depois de um ataque com armas químicas nos subúrbios de Damasco ter deixado mais de 1.400 mortos.
Não se sabe quantas armas químicas a Síria possui, mas acredita-se que Assad mantinha arsenais e que a declaração que fez estava incompleta.
As vítimas de ataques químicos na Síria falou recentemente com a BBC sobre os impactos devastadores que sofreram.
Entretanto, os ministros dos Negócios Estrangeiros europeus reúnem-se em Berlim na quinta-feira para manter conversações críticas sobre a Síria e a Ucrânia.
Um dia depois, os líderes dos países do G7 também discutirão os últimos acontecimentos na Síria numa reunião digital, disse a Casa Branca.