O rover Perseverance da NASA, atualmente explorando a cratera Jezero de Marte, detectou moléculas baseadas em carbono que podem sugerir vida antiga no Planeta Vermelho. Essas descobertas, relatadas no verão passado, foram feitas usando o SHERLOC (Scanning Liveable Environments with Raman and Luminescence for Organics and Chemical compounds), um instrumento avançado capaz de identificar potenciais compostos orgânicos. Embora a descoberta tenha suscitado esperanças na comunidade científica, permanecem questões sobre a sua precisão, à medida que os investigadores consideram explicações alternativas para os dados.
Detecção de moléculas orgânicas e seus desafios
O instrumento SHERLOC utiliza duas técnicas: luminescência ultravioleta e espectroscopia Raman. Dr Ken Farley, Cientista do Projeto da missão Perseverance, explicou que o SHERLOC pode detectar matéria orgânica potencialmente presente no ambiente de Marte. A luminescência, embora altamente sensível, carece de especificidade, pois materiais não orgânicos também podem produzir sinais semelhantes. A espectroscopia Raman fornece impressões digitais químicas mais precisas, mas sua sensibilidade é limitada. Esta combinação permite aos investigadores levantar hipóteses sobre a presença de moléculas orgânicas, mas as incertezas nos dados complicam conclusões definitivas.
Potenciais explicações alternativas
UM estudar publicado na Science Advances postulou que os sinais detectados poderiam ter origem em substâncias inorgânicas, como defeitos em minerais como fosfato e silicato ou a presença de íons de césio. A Dra. Eva Scheller, cientista planetária do MIT e coautora do estudo, destacou que múltiplas composições químicas podem produzir padrões espectrais semelhantes. Tais sobreposições, conhecidas como degenerescência em espectroscopia, tornam difícil interpretar os dados de forma confiável. Os investigadores originais também reconheceram estas explicações alternativas, sublinhando as dificuldades inerentes às análises remotas de Marte.
Implicações e investigações futuras
Embora a presença de moléculas orgânicas possa não confirmar a vida, a história da cratera de Jezero como um antigo leito de lago aumenta a importância da descoberta. Tanto Farley como Scheller concordam que uma missão de retorno de amostras a Marte poderia fornecer a clareza necessária para determinar se estes compostos se originaram de processos biológicos ou abióticos. Até lá, espera-se que os debates em torno das descobertas continuem, ilustrando a natureza evolutiva da investigação científica.